sábado, 16 de fevereiro de 2013

Lágrimas de crocodilo

Por acaso você já ouviu em algum lugar a expressão popular “derramar lágrimas de crocodilo”? 

Essa expressão é usada para dizer que alguém chora sem razão ou por fingimento, surgindo de um fato que acontece com os crocodilos.

Quando o crocodilo come uma presa, ele a engole sem mastigar. Para isso, abre a mandíbula de tal forma que ela comprime a glândula lacrimal, localizada na base de seu olho, o que faz com que esses répteis lacrimejem. 


Esse está com cara de político!


São lágrimas naturais, mas é lógico que não significam que o animal se emocione ou sinta pena da sua presa. Daí vem a expressão "lágrimas de crocodilo", querendo dizer que, embora a pessoa chore, suas lágrimas não significam que ela esteja sofrendo, e por muitas vezes é por pura falsidade. 

Os crocodilianos são animais visados para obtenção de carne e couro. Provavelmente você já deve ter ouvido falar de como é valioso um sapato ou uma bolsa feita com pele de jacaré. A carne de jacaré também é muito apreciada por muitas pessoas do mundo inteiro. Quem já teve a oportunidade de ver um jacaré, mesmo que longe, deve ter notado um animal aparentemente tranquilo, mas que pode ser muito perigoso. 
Apesar de serem raros os ataques do jacaré a seres humanos, grande jacarés como o jacaré-açu (Melanosuchus niger) podem alcançar seis metros de comprimento e por isso, são temidos pelas pessoas. 

Com seis espécies, o Brasil é um dos países que apresenta maior riqueza desse grupo, com quatro delas ocorrendo na Amazônia. 

Os nomes populares são: jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latilostris), jacaré-do-pantanal (Caiman yacare) jacaretinga (Caiman crocodilus), Jacarepaguá (Paleosuchus palpebrosus), jacaré-coroa (Paleosuchus trigonatus) e jacaré-açu (Melanosuchus niger). 



Caiman crocodilus crocodilus (jacaré-tinga)


Os jacarés são carnívoros, mas nem por isso saem devorando pessoas como muitos pensam. Para atacar, o jacaré tem que se sentir muito ameaçado, pois, do contrário, ele afunda podendo ficar debaixo d’água por mais de dez minutos sem respirar. 

Os jacarés são animais fascinantes e merecem todo respeito por ser um predador natural e ajudar no equilíbrio populacional de peixes nos rios. 

 

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A cobra que mama

Você já deve ter ouvido falar sobre a lenda que diz que a caninana (Spilotes pullatus) ou outra cobra é capaz de mamar numa mulher lactante enquanto mantém a ponta da cauda na boca do bebê, para este não chorar. Se nunca ouviu falar dessa história quero apresentar mais uma de tantas lendas que envolvem as cobras.

Para ficar claro que essa história não é verdadeira, é constatado pelos Biólogos que o formato da boca da serpente não é adequada para amamentação , e que o leite não faz parte de sua alimentação. A origem dessa lenda pode estar associada ao encontro de serpentes em currais, na hora da ordenha – serpentes que provavelmente estavam a procura de roedores ou de proteção, mas pessoas associam com as vacas leiteiras e a ordenha. 

A caninana (Spilotes pullatus) também tem fama de cobra brava, que corre atrás e alguns dizem que ela é extremamente perigosa, porém tudo não passa de uma fama injusta. Mesmo sendo grande e de achatar o pescoço quando está irritada, a Caninana é uma cobra mansa e sempre foge quando avistada. Eu mesmo já tive essa experiência  em um trabalho que fiz. Quando me deparei com uma caninana, que tinha aproximadamente dois metros, ela simplesmente fugiu sem me deixar tirar pelo menos uma foto. É importante ficar claro para o leitor, que essa cobra como a maioria de todos os animais, pode atacar caso ela se sinta ameaçada. 

A caninana (Spilotes pullatus) não é uma serpente peçonhenta podendo atingir 3,0 m de comprimento total. Possui colorido de fundo negro com barras amarelas e ventre manchado de amarelo. Alimenta-se de lagartos, aves, ovos e mamíferos (Freitas, 2003), e não de “leite” como relatado na lenda. Esta espécie é considerada comum, sendo amplamente distribuída nas Américas Central e do Sul em todos os ambientes.

Spilotes pullatus (Caninana)

As serpentes predam vários grupos animais, sendo este fenômeno o principal eixo do nicho ecológico desses animais. Todas as espécies são carnívoras que engolem suas presas inteiras e podem caçar em vários ambientes (aquático, subterrâneo, terrestre e arbóreo). As serpentes podem ser pequenas, ou atingir até mais de nove metros de comprimento, como no caso da sucuri (Eunectes murinus), mas a maioria das espécies não ultrapassa dois metros.

Os répteis apresentam o corpo recoberto por escamas, com poucas glândulas na pele, estando melhores adaptados para a vida terrestre do que os anfíbios. As serpentes estão entre os animais mais temidos e odiados pelas pessoas em geral devido à periculosidade de algumas espécies. Mesmo assim, precisamos reconhecer a importância ecológica das serpentes para a natureza e para o homem. Vários laboratórios internacionais que usam o veneno de muitos tipos de serpentes para fazer diversos medicamentos.

A maioria das serpentes utiliza a fuga para escapar dos predadores (inclusive do homem) ou fica parada para não ser percebida. Algumas serpentes, peçonhentas ou não, quando se sentem ameaçadas podem aplicar botes para atacar o agressor. Caso você se depare com alguma serpente, peçonhenta ou não, é importante que não a mate. Basta ligar para o Corpo de Bombeiros (193) que eles virão para fazer a captura e soltá-la em seu habitat natural.  


 

O sapo leiteiro

Lendas e crendices habitam o imaginário de muitas pessoas há muito tempo e os animais são personagens de várias. Os anfíbios são animais representados pelos sapos, rãs, pererecas e salamandras e por vezes, estes animais sofrem com o preconceito e antipatia pela grande maioria das pessoas.  

O nome anfíbio provém do grego (amphi = duplo; bio = vida) e se deve ao fato de grande parte das espécies apresentar uma fase larval aquática na forma de girino (com respiração branquial e, em sua maioria, alimentação herbívora) e outra fase terrestre, adulta, com respiração pulmonar e cutânea e alimentação baseada principalmente em artrópodes.  

O sapo-cururu (Rhinella schneideri, Rhinella marina, Rhinella icterica) é muito comum por aparecer nos quintais das casas, nas ruas, ou em brejos podendo causar desconforto ou até mesmo pavor para muitas pessoas que o observa.
  
Rhinella schneideri (Sapo-cururu)

A crença que os sapos esguicham veneno nos olhos das pessoas vem passando de gerações em gerações, mas as verdades dessa história poucos conhecem. Tenho certeza que você já deve ter ouvido alguém falar pra tomar cuidado com os sapos porque eles jogam leite podendo até cegar. 

Eu particularmente, durante a minha infância, já vi muita gente matando sapo a pedradas ou a pauladas por acreditar mesmo nessa história. Ou ainda, jogando sal em suas costas deixando-o com muita dificuldade em respirar. Mas será mesmo que sapo joga leite? Ou ainda, será que o sapo produz leite assim como as vacas?

Vamos por parte!

A vaca é um mamífero. Os filhotes (bezerros) das vacas necessitam de leite materno no início da vida.

Você já viu filhote de sapo mamando?

Sapo é mamífero? Com certeza não!

Os sapos fazem parte do grupo dos anfíbios e não produz leite. Aquele líquido branco-amarelado parecido     com a textura do leite que você deve ter visto algum dia, é apenas uma secreção composta por toxinas que funcionam como mecanismo de defesa contra possíveis predadores.

Pois bem, existe um grande equívoco por acreditar que os sapos tenham a capacidade de esguichar “leite” nas pessoas. Mas quero apresentar-lhes uma espécie que tem a capacidade de esguichar uma pequena quantidade de secreção tóxica, e não “leite”, á uma distância de 2 m, aproximadamente. Conhecido popularmente como "sapo" o Rhaebo guttatus de forma voluntária é capaz de ejetar veneno com suas glândulas paratóides. 

Rhaebo guttatus (sapo)

A espécie Rhaebo guttatus apresenta hábitos noturnos e é encontrada em todo o norte do Brasil, correspondendo toda a região amazônica (Frost, 2011). 

A capacidade de esguichar veneno desse sapo só pode ser observada em indivíduos adultos e quando se sentirem ameaçados. É bom deixar claro para os leitores que esse comportamento não é uma regra, pois alguns estudos demonstram que o Rhaebo guttatos pode apresentar diversos tipos de mecanismos de defesa, como: permanecer imóvel, fugir, inflar, urinar, abrir a boca e fechar rapidamente e repetidamente e ainda inclinar o corpo. 

A crença de que os sapos jogam leite tem fundamento, assim como muitas outras lendas e crendices. Por isso é importante que pesquisas científicas com estes e outros tantos animais aconteçam. Muitos Biólogos estão nessa jornada em procura de entendimento e respostas para tantas questões que se não forem estudadas, acabam virando crendice ou lenda. 

Você pode até não gostar dos anfíbios, mas é obrigado reconhecer a importância que estes animais têm na natureza. Não mate e não maltrate os anfíbios, pois a existência desses animais beneficia e muito a vida de nós seres humanos.